A vida em movimento

De tempos em tempos fica mais difícil. Seja porque o tempo mudou e cicatrizes doem durante esta transição ou porque me sinto descuidada, a dor aumenta e volta a tentar dominar o corpo, a mente, as sensações e o futuro. 

Dói mesmo, parece drama, já achei que fosse (sou dramática e o seria mesmo sem o abuso, é coisa de personalidade cênica, essa minha) – mas não é. É coisa de cicatriz mesmo. Sabe quando você está no trânsito, no ônibus ou no carro, ou andando de bicicleta e de repente se pega pensando naquele namorado do primário e dá aquele sorrisinho gostoso mas sem nenhuma pretensão nenhuma de ligar, procurar o perfil dele no facebook ou questionar o que foi que você fez pra não estarem juntos até hoje? Então, é a mesma coisa só que com uma dor chata.

A diferença é que, agora, eu olho pra essa dor quando ela chega, dou uma choradinha proporcional e deixo passar. Estou tentando ficar focada em não alimentar os pensamentos paralelos – seja analisando o que me levou àquela situação, seja pedindo ajuda projetada pras pessoas, especialmente pra minha família.

É complicado quando você expõe uma situação maluca do tipo “olha, eu fico assim um tanto desesperada quando estou pedindo ajuda de amor pra tentar curar aquele momento assustador, e é sério que de vez em quando acontece de eu nem perceber que estou vivendo um mini-surto de pedido de ajuda, mas entendi que é isso, então se você pudesse me dar um abraço e um beijo e, se não for pedir demais, dizer que está tudo bem ou que vai ficar tudo bem, nossa, seria o máximo e desconfio que pararia a crise” – não dá, né, porque as pessoas têm sua própria caminhada e não têm a obrigação de cuidar de uma mulher crescida que se diz ousada e abusada. E, especialmente, porque a parte que me levou a escrever um este blog de compartilhamento de uma experiência escrota e do mal é a parte de acreditar na cura, mesmo que seja uma ousadia. Sou expert nisso, não posso esquecer 🙂 

Daí que estou nesse treino de sentir a sensação e deixar passar, mesmo que com choro, mesmo que com aquele movimento de encolher o corpo e dar um mini enjôo. Eu me permito sentir, sinto e deixo passar. E, enquanto sinto, fico esperta nível chefão pra não deixar estes paralelos, tão comuns à quem tem a cabeça criativa, tomarem conta do meu exercício de sentir. 

Tem funcionado, tem me mantido segura. E, torço, de coração, pra melhorar e continuar funcionando para, além de me manter salva, me manter sã. 

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